It's everywhere. Nos fóruns e salas de discussão sobre apostas de trading. Todo o mundo diz que um dos segredos de se apostar com sucesso (para além do controlo emocional) é pôr de lado os nossos feelings e as nossas fezadas e apostarmos, digamos, de uma forma matemática, atendendo às estatísticas para encontrar odds que sejam favoráveis. Hoje vou falar de estatística, de feelings e da importância que ambos têm na minha forma de apostar.
* Estatística
Quando há eleições, aparecem as previsões que são feitas com base numa amostra de milhares de pessoas com diversas características demográficas e psicográficas. Elas são feitas por entidades altamente competentes que antecipam os vencedores e a percentagem de voto. E mesmo estas previsões falham frequentemente. Posto isto, vou ser directo: não entendo a utilização da estatística como base na decisão de se apostar.
Vou começar pelo futebol. Todos os anos muitas equipas mudam de treinador, com filosofias completamente diferentes do seu antecessor. Depois há aquelas que não mudam de treinador mas mesmo assim a sua performance desportiva muda drasticamente apenas porque saíram e/ou entraram elementos nucleares dos habituais titulares. Todos os anos as equipas mudam, e quantos mais anos passam, mais díspares são as equipas. Nos dois últimos campeonatos conquistados pelo Benfica, qual é o ponto comum entre o futebol do Benfica do Trapattoni e do Benfica do Jesus? Eu não vejo nada. Não compreendo como é que há pessoas que tomam decisões com base em estatísticas com dados de há 10, 5 ou mesmo de 3 anos para trás.
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Então sendo assim, considerando apenas os dados da época actual, vou trabalhar quando? No final da época? Uma equipa de futebol, em Abril, terá feito 40 jogos, se tanto. Voltando às eleições, se eu fizer uma previsão com base na resposta de 40 pessoas, é o trabalho cientifico mais absurdo à face da terra. Se eu apresentar uma tese académica com resultados tirados de um inquérito feito a 40 pessoas, o júri não me dá uma nota, dá-me um tiro.
No entanto há pessoas que arriscam dinheiro baseando-se em amostras tão insignificantes como 40 jogos, muitas vezes em ligas que nunca viram sequer as equipas jogar.
Para quem não sabe, as casas de apostas formam odds de forma quase automática, através de um software que analisa estatísticas de encontros passados. Depois há pequenos ajustes consoante situações excepcionais (lesões, etc.) e consoante a confiança dos apostadores. Mas a base é a estatística. É por isso que o Manchester era claramente favorito contra o Bilbao na Liga Europa. É por isso que o Djokovic deste ano teve odds do Djokovic do ano passado. Por isso, na minha opinião, não é na estatística que encontramos o valor, mas sim nas situações onde a estatística está redondamente enganada. E não são assim tão poucas.
Para o ténis a estatística ainda mais falível é. Se dois jogadores já se encontraram 10 vezes no passado já é muito bom. E essas 10 vezes ainda se dividem pela superfície. E a carreira de um jogador pode mudar tão de repente que o passado pouco importa. O Djokovic de 2010, 2011 e 2012 são 3 jogadores distintos.
Em suma, vejo as estatísticas como mera curiosidade ou informação adicional, mas não é a minha base de decisão. Poderia servir também para escolher os melhores encontros para trading, mas se conhecermos bem os jogadores, não precisamos de consultar a estatística: sabermos isso por nós mesmos.
* Feeling
Então se, na minha opinião, a estatística não é o caminho para se ter sucesso nas apostas, como pode ser o feeling, se a maioria dos apostadores o segue e falha compulsivamente?
Antes de mais, o que é o feeling? Bem, apostar com feeling não será muito diferente que "tomar o caminho mais longo, porque a esta hora deve estar trânsito no principal" ou "levar as meloas mais leves porque normalmente são mais saborosas".
O feeling não é nada mais que uma sensação de deja vu, de observarmos uma situação idêntica a outra ou várias outras no passado e por isso existe grande possibilidade de ter um final idêntico. No fundo, não é nada mais que a identificação de padrões, um termo tão falado no mundo do trading. Para mim o problema de muita gente não está em seguir os seus feelings, mas na sua atitude perante os seus feelings, nomeadamente nestes três aspectos:
1. Muitos apostadores criam expectativas exageradas perante os seus feelings. Ao ponto de não aceitarem bem estar errados. Acontecer B "quando era tão óbvio" que ia acontecer A. Aqui já entram as questões psicológicas de controlo emocional.
2. Muitos apostadores escolhem os preços errados. Acham que só porque têm um feeling que algo vai acontecer, isso tem que acontecer mesmo, e por isso, qualquer preço serve porque é "dinheiro garantido". Temos que compreender que uma odd de 1.5 já representa algo muito provável de acontecer. Por isso para mim é mais fácil ver valor em odds de 2 ou mais porque são odds que representam algo pouco provável de acontecer, no entanto em muitas elas detecto uma probabilidade de acontecer bastante acima dos 50%.
3. Muitos apostadores não têm experiência e conhecimento suficientes e isso origina feelings errados. É o que acontece quando conhecemos mal um desporto ou os jogadores/equipas com que trabalhamos. Eu sei bem qual era a minha visão quando conhecia pouco o ténis e qual é a minha visão agora, depois de ver centenas de jogos. É fulcral conhecer bem os jogadores com que trabalhamos.
Fica assim registada a minha opinião sobre o tema. Espero que vos seja útil independentemente de concordarem ou discordarem. Tenho um feeling que sim!